sexta-feira, 1 de maio de 2009



Silêncio que me toma!


Hoje pediram-me para justificar-me diante do meu próprio silêncio. Como se o manter-se calado não estivesse no âmbito da normalidade. Ainda mas quando pessoa que silencia sou eu. Um des-equilibrado, que em muitas das vezes fala demais por não ter nada a dizer. Fala demais por sentir uma certa agonia nos olhos daqueles que não suportam o silêncio, fala demais pois, sente em si uma necessidade absurda de fazer as pessoas gargalharem.

Parece-me quase um crime, quando uma pessoa está comigo e não mostra o dentes. Isso acontece, quando a intimidade é pouca, desde pequeno aprendi que a intimidade é proporcional a quantidade de silêncio que você consegue manter ao lado da pessoa e ao mesmo tempo ter profundos diálogos com ela, sem que você se sinta forçado a falar .


Quando o social te coercitiva a falar, faz-me lembrar da perspectiva que percebe a língua como fascista. A língua se torna fascista, quando te obrigar a “materializar” verbalmente e de forma coerente o seu mais profundo sentimento. Quando somos obrigados a codificar nossas lágrimas em palavras e de preferência que tenha um encaixe coerente com os nossos conjuntos de motivos que legitimam uma lágrima como: lágrima de verdade, lágrima sem motivo, lágrima de palhaçada, ou lágrima de novela. Facilita o controle e o nosso estado de segurança, diante o já conhecido, o óbvio.


Pelo o catálogo comportamental psicológico popular a coisa se desenrola mais ou menos, assim:

Se você estiver em silêncio, este remeterá a uma tristeza proporcional (uma sociedade baseada no barulho ver no silêncio a marca inquestionável da anormalidade e da tristeza), depois vem a curiosidade e até a preocupação em querer te ajudar acabará por te obrigar a codificar esse seu (silêncio/tristeza) em palavras, pois, essas serão comparadas ao sistemas de indícios causadores de tristeza do tipo da sua, para enfim começarmos um tratamento.

Isso é loucura, os momentos de silêncio são precisos e preciosos e são normais, quando se pensa que só existe fala porque há silêncio. Além do mais, o silêncio além de ausência de barulho, coisa que para a nossa sociedade é ligada diretamente a uma questão depressiva, o silêncio lembra auto-reflexão, coisa que também a nossa sociedade da distração e dos eventos não prefere muito.

Enfim, só escrevo isso para pedir que me deixem calado, curtindo o meu só, meu próprio e que isto não necessariamente remete a tristeza. E que as vezes não se quer compartilhar a tristeza e sim só se quer um abraço. Que as vezes, não dá pra falar do que se sente e nem todo o esforço seu, poderá enquadrar o teu sentir (muitas das vezes não sabe nem daonde veio) em códigos conceituais e suas generalizações. E também, deixemos de ver a tristeza como algo a-normal e ruim, este sentimento está no bojo do que se chama vida, ele é normal, também é viver e pode ser muito fecundo.

Se por acaso eu achar que a dor é demais, eu canto. Só cantando se manda a tristeza embora.

Ontem estava triste, e não sei nem porque, são tantas forças que operam no desejo....

E além do mais, concordo com Schopenhauer quando este diz que, não podemos ter uma vida feliz, no máximo o que podemos ter é uma vida heróica!

beijos

Um comentário:

Unknown disse...

Tá bom! Já entendi...rs