sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Torna-te quem tu és em todas as formas de sentir







"As vivências mais nossas não são nada Tagarelas"...Nietzsche.

Aprender a me silênciar diante do que a mim se apresenta como incrível tem sido uma grande guerra. Quantas vezes, algo se deu com tamanha dimensão aos nossos ólhos ciumentos e que nos foi imperativo compartilhar tal incrível, e a pessoa que nos ouve descontrói com seus sons ou com sua face o nosso estado de torpor? Nos diz: é isso que te emociona? Tentar explicar nesta hora é loucura. A nossa experiência só o é incrível, porque atrás de si tem todos as cicatrizes dos nossos anos vividos, a foça das nossas ilusões e tudo o que fizemos e deixamos de fazer, o modo único pelo o qual sentimos, os entusiasmos únicos de nossa existência. Aí, porque nós somos nós é que uma situação nos é tão aprecível. Ora, esta unicidade que se mostra nos nossos paladares é factual em todas as nossas experiências.
Hoje aprendi a rir quando alguém me oferece um segredo de dieta ótimo que a/o fez emagrecer. Mesmo com toda a boa intenção, ela ou ele pressupõe neste ato que o seu organismo fisíco e mental é o mesmo que o meu e a sua experiência feliz pode ser moralizada e se tornar lei. Não é assim que funciona, cada um tem seus dentes, cada estômago possui sua velocidade, cada veia tem a sua expressura, cada garganta o seu abismo, logo, nós homens somos únicos, e não moralizáveis. Tal tentativa moralizante recai também nos sentimentos, e nos obrigamos a amar igual, a sentir igual, a dar igual tonalidade aos diversos conceitos que nos apresentam. Eu por exemplo, tenho uma amizade bastante incomum e havia de ser, já que eu e o meu amigo somos únicos, logo o tipo de amizade que nos cabe é fruto da unicidade dos seres que se relacionam, da idade que se relacionam, das experiências que tiveram , e mais, mais, mais vairantes únicas.
A forma como me deixa feliz uma amizade, é a minha forma que se forma sobre dois tabuleiros distintos. E assim, é-me sempre forçoso explicar quando me indagam: Que tipo de amizade estranha é a sua? parece com isso, ou aquilo e tem um pouco daquilo naquilo, o que é? E nessas horas, quando me lanço a sandice de explicar as pessoas, todas de forma inconsciente, vão nos seus arquivos históricos mentais procurar vivências, nomes, conceitos, sentimentos que codificam o que eu lhes disse. Loucos! Não se parece com nada, não é verossemelhante a nada, é a minha amizade, ha sempre que se inventar palavras novas pras vivências únicas quando se tem vontade de poder suficiente, quando a persona si impõe sempre aos conceitos o poder da sua individualidade criativa.
Enfim, amigos meus, aprendeis a silênciar quando algo si apresenta a vós com ares divinos, pois podeis ver se tornar ruínas o maravilhoso. E compartilhar esses momentos únicos é correr num risco tão grande - o de ver ruir o maravilho - que só quando se si eleva em desprezo é que podemos fazer isso, como diria o grande Nietzsche. Aos demais, não tente me conceituar, me definir, eu sou eu e já o é tão difícil sê-lo neste mundo que cultua o nós, a mistura, a comunidade e que a cada dia se "arrebanha" mais e perde dentro de suas caricaturas feitas em série o seríssimo, doce e misterioso singular indivíduo. Acima de tudo lhes peço: Não me confunda!

Para finalizar, eis o poeta:



Segue o teu destino
Rega as tuas plantas
Ama as tuas Rosas
O resto é a sombra
De árvores alheias

A Realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios

Suave é viver só
Grande e Nobre é sempre
Viver simplesmente
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos Deuses

Vê de longe a vida
Nunca a interrogues
Ela nada pode Dizer-te
A resposta está além dos Deuses

Mas serenamente
Imita o Olimpono no teu coração
Os Deuses são Deuses
Porque não se pensam.

Fernando Pessoa