segunda-feira, 13 de abril de 2009

Extra-celeste e Extra-terrenos

Extra-celeste e Extra-terrenos


No feridão da Páscoa, sobre um pedido de um amigo, sobre uma fatídica curiosidade e sobre uma possibilidade do novo, fui-me ajudá-lo na filmagem de um congresso evangélico. Lá, enquanto lia o Pornô Político de Arnaldo Jabour, ajudava-o, ao ponto que também participava como telespectador daquele acontecimento religioso bastante rico em detalhes. Ao mesmo tempo que minha mente divagava saudosamente sobre um passado onde eu comungava da mesma cosmovisão, ela se sentia isolada, em algum lugar-outro. Como um chinês perdido numa tribo indígena, como um vascaíno deixado para atrás no meio da torcida do flamento, ali estava eu.
Lá estava eu, ou melhor lá era Eu o símbolo de tudo que eles não queriam ser, era Eu lá o retrato-falado de toda uma criminalidade horrível, um pecador, um mundano, um usado pelo o inimigo da Vida. Contrapondo a isso, eles também eram tudo aquilo que já fui e que hoje em certa medida desprezo, des-valorizo. Ou seja, éramos o Árabe e o Norte Americano um do outro.
Eles eram um fruto podre da história pra mim, um tipo fraco psicologicamente, um objeto de estudo antropológico, um povo da Idade Média, perdidos no tempo e do Espaço. Eu para eles, era fruto de um Mundo perdido, fruto de uma Des-crença demoníaca, um usado pelo o Satanás, um pecador , um inimigo do Povo de Deus, logo, um inimigo do Bem, do Bom, do Perfeito. Eu era um mundano e um extra-celeste, pois, o céu não pertencia ao tipo que represento pra eles e eles eram os extra-terrestres, pois, se auto-definem como cidadãos do reino do céus, santos, puros. A terra é maldida, já no início dela o Homem já a transforma em lugar de dor, de sofrimento ao comer o fruto proibido e o céu é o Lugar aonde as coisas são perfeitas, onde a paz é real, onde o amor vigora, onde a morte tá morta, onde a Vida é mais Vida.
Me penduro na grade e olho todo aquela catarse religiosa. Olho com certa desconfiança, com certo prazer ( como quem olha um peça de teatro, um tipo representativo humano), com certa saudação ( pois, já fui o “escolhido de deus”), com certo nervosismo. Olho do lado de fora do culto, olho de lado de fora daquela vida, olho do lado de fora dos escolhidos, olho do lado de quem sofrerá eternamento, olho do lado de quem a morte mata, olho do lado de quem não tem milagres, olho do lado de quem a vida é do cão, olho do lado de quem tava sozinho diante do “povo de deus”, era um que não pertencia ninguém, eles eram “povo de deus”. Milhões de sensações me invadem e a que se torna mais sólida é que o Mundo só tem maluquice!
Mas enfim, cheguei a conlusão que eles são legais, são inocentes e são cruéis. Nós, “homens da razão”, céticos, descrendes, amantes da interrogação, também somos legais, inocentes e cruéis. Somos todos, como diria Nietzsche, humanos demasiadamente humanos, carentes, solitários, frágeis, bichos que procuram explicações sobre o quê somos, sobre o que é a Vida, sobre pra aonde vamos, e sobre de onde Viemos.
Somos, Humanos demasamente Humanos e só.
Que haja amor, vida, que possamos respeitar o outro, a sua limitação, a sua devoção, a sua carência, a sua construção, o seu deus e a sua escritura! Que o homem e que a vida seja maior que a lei ou as crenças, como diria Jesus. Que possamos nos proteger como disse Malcom X, que possamos tranformar o Mundo como disse Marx, que possamos respeitar o lugar do outro!

Abraços de um ex-crente e de um novo...